Educação nas entrelinhas: a nobre mentira de platão
Palavras-chave:
Filosofia da Educação, Platão, República, Nobre MentiraResumo
Os antigos escritores gregos falavam pouco das entrelinhas. Em vez disso, dirigiam o olhar para as linhas. Sua preocupação era com o que ficava evidente nas linhas e, principalmente, suas interpretações. No entanto, isso não significa que não houvesse nada para ler nas entrelinhas. Ao contrário disso, pode-se dizer que os antigos gregos eram especialistas em encher as entrelinhas de possibilidades. A cidade grega era uma sociedade que regulava quase todos os aspectos da vida, inclusive a moral, a religião e a arte. Contudo, uma atividade permanecia essencialmente privada e transpolítica: a filosofia. De fato, os filósofos rejeitavam as ideias dominantes da sociedade, ainda que essas ideias fossem fortemente abraçadas na superfície de seus escritos. Revelavam, portanto, sob a superfície, o que não podia ser explicitado, exceto para um grupo seleto de acólitos. Daí o convite para uma hermenêutica da desconfiança. O objetivo, aqui, é, portanto, examinar a assim chamada “nobre mentira”, contada por Sócrates na República (415a-d), sobre sua proposta de estratificação social, a fim de entender o sistema educacional proposto nessa obra pedagógica de Platão, a partir das entrelinhas desse mito, e sua implicação social e política para o trabalho educativo
Downloads
Referências
ARRUZZA, Cinzia. The private and the common in Plato’s Republic. History of Political Thought, v. 32, n. 2, p. 215-233, 2011
AUSTIN, C. (Ed.). Comicorum Graecorum fragmenta in papyris reperta. Berlin: De Gruyter, 1973.
ARISTOTELES. Problemata. In: BEKKER, I. (Ed.). Aristotelis opera. Berlin: Reimer, 1960 [1831]. v. 2.
BARSTCH, Shadi. Plato’s Republic in the People’s Republic of China. Know, v. 3, n. 1, p. 167-191, 2019.
BERTI, Enrico. Existe uma ética nas “doutrinas não escritas” de Platão? In: MIGLIORI, Maurizio; VALDITARA, Linda M. N. (Orgs.). Plato ethicus: a filosofia é vida. Tradução: Silvana C. Leite e Élcio de G. Verçosa Filho. São Paulo: Loyola, 2015. p. 39-54.
BURNYEAT, M. F. Utopia and fantasy: the practicability of Plato’s ideally just State. In: HOPKINS, J.; SAVILE, A. Psychoanalysis, mind and art. Oxford: OUP, 1992. p. 175-187.
ERBSE, H. (Ed.). Scholia Graeca in Homeri Iliadem: scholia vetera. Berlin: De Gruyter, 1974. v. 3.
DODDS, E. R. The Greeks and the irrational. Berkeley: University of California Press, 1973 [1951].
EUSTATHIUS. Commentarii ad Homeri Iliadem. In: VAN DER VALK, M. (Ed.). Eustathii archiepiscopi Thessalonicensis commentarii ad Homeri Iliadem pertinentes. Leiden: Brill, 1979. v. 3.
GREENE, W.C. (Ed.). Scholia Platonica. Haverford, PENN: American Philological Association, 1938.
HAUBOLD, J. H. Shepherd, farmer, poet, sophist: Hesiod on his own reception. In: BOYS-STONES, G. R.; HAUBOLD, J. H. (Eds.). Plato and Hesiod. Oxford: OUP, 2010. p. 11-30.
HOMERO. Ilíada. Tradução: Carlos Alberto Nunes. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001.
KAMTEKAR, Rachana. Speaking with the same voice as reason: personification in Plato’s psychology. Oxford Studies in Ancient Philosophy, v. 31, p. 167-202, 2006.
KASIMIS, Demetra. Plato’s open secret. Contemporary Political Theory, v. 15, p. 339-357, 2015.
KEUM, Tae-Yeoum. Plato’s myth of Er and the reconfiguration of nature. American Political Science Review, v. 114, n. 1, p. 54-67, 2020.
LEE, Desmond (Trad.). Plato: The Republic. 2. ed. New York: Penguin, 1979 [1955].
McCLINTOCK, Robbie. Homeless in the house of the intellect: formative justice and education as an academic study. New York: Laboratory for Liberal Learning, 2005.
MELZER, Arthur M. Philosophy between the lines: the lost history of Esoteric writing. Chicago & London: University of Chicago Press, 2014.
MORAVCSIK, Julius. Platão e platonismo: aparência e realidade na ontologia, na epistemologia e na ética. Tradução: Cecília C. Bartalotti. São Paulo: Loyola, 2006.
NIETZSCHE, F. W. Genealogia da moral: uma polêmica. Tradução: Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia de Bolso, 2009.
NIETZSCHE, F. W. Vontade de potência. Tradução: Mário Ferreira dos Santos. Petrópolis: Vozes de Bolso, 2017.
PATTERSON, Annabel. Reading between the lines. London: Routledge, 1993.
PEREIRA, Isidro. Dicionário grego-português e português-grego. 7. ed. Braga: Apostolado da Imprensa, 1990?.
PLATO. Respublica. In: BURNET, Ioannes (Ed.). Platonis opera. Oxford: OUP, 1986 [1910]. v. 4, p. 327-621.
POPPER, Karl. The open society and its enemies. 5. ed. rev. Princeton: Princeton University Press, 1966.
PRICE, A. W. Plato: ethics and politics. In: TAYLOR, C. C. W. (Ed.). From the beginning to Plato. Routledge History of Philosophy. London & New York: Routledge, 1997. v. 1, p. 364-391.
ROWETT, Catherine. Why the philosopher kings will believe the noble lie. Oxford Studies in Ancient Philosophy, v. 50, p. 67-100, 2016.
SCHOFIELD, Malcolm. Approaching the Republic. In: ROWE, C.; SCHOFIELD, M. (Eds.). The Cambridge history of Greek and Roman political thought. Cambridge: CUP, 2000. p. 190-232.
STEIN, Zachary. Myth busting and metric-making: refashioning the discourse about development. Integral Leadership Review, v. 8, n. 5, 2008.
STRAUSS, Leo. Persecution and the art of writing. Chicago & London: University of Chicago Press, 1988.
VALDITARA, Linda M. N. Introdução. In: MIGLIORI, Maurizio; VALDITARA, Linda M. N. (Orgs.). Plato ethicus: a filosofia é vida. Tradução: Silvana C. Leite e Élcio de G. Verçosa Filho. São Paulo: Loyola, 2015. p. 9-38.
VIANU, Lidia. Censorship in Romania. Budapest: Central European University Press, 1998.
WENDEL, K. Scholia in Theocritum vetera. Leipzig: Teubner, 1967 [1914].
WILDERBING, James. Curbing one’s appetites in Plato’s Republic. In: BARNEY, Rachel; BRENNAN, Ted; BRITTAIN, Charles (Eds.). Plato and the divided self. Cambridge: CUP, 2012. p. 128-149.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2023 Docent Discunt
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Declaração de direito autoral
Declaro (amos) que a revista Docent Discunt está autorizada a publicar e alterar o texto inédito e original de minha (nossa) autoria, submetido para avaliação neste periódico, a fim de "maximizar a disseminação da informação". Concordo (amos) em compartilhar os direitos autorais a ele referentes com a Unaspress e com o Unasp, sendo que seu “conteúdo, ou parte dele, pode ser copiado, distribuído, editado, remixado e utilizado para criar outros trabalhos, sempre dentro dos limites da legislação de direito de autor e de direitos conexos”.
Reconheço (Reconhecemos) ainda que a Revista Docent Discunt está licenciada sob uma LICENÇA CREATIVE COMMONS - ATTRIBUTION 4.0 INTERNATIONAL (CC BY 4.0) e que esta obra também estará licenciada com uma Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional, caso seja aceita e publicada.
Dito isto, Permito (permitimos) que as instituições citadas acima remixem, adaptem, criem e distribuam, a partir deste trabalho, mesmo que para fins comerciais, desde que atribuam o devido crédito ao(s) autor(es) pela criação original.